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Saturday, December 30, 2006

O VÔO DA GALINHA DOS OVOS DE OURO


Rock baiano. Esse monstro existe? Morde? Faz cócegas? É aderente à calcinha? Solta as tiras ou tem cheiro? Bom, o certo é que sim, oxente, nós temos bandas e elas fazem rock, então, goste ou não, com ou sem “elementos regionais”, com E sem profissionalismo, com e, principalmente, SEM apoio (seja lá de que tipo), e com público mediano (otimismo?) ele segue pelos caminhos e desvios e estradas esburacadas e estações aconchegantes & perniciosas. Em 2006, rolou. Algumas bandas novíssimas já fizeram barulho, caso da Canto dos Malditos na Terra do Nunca e seu contrato com uma major e aparições globais, Pessoas Invisíveis, definitivamente, EX-banda-de-um-homem-só, premiada no festival Trama Universitário, abrindo, junto à outras premiadas, um show de Maria Rita no Rio. Formidável Família Musical e seu implacável tino comercial (no melhor sentido da expressão, frise-se), senso este apoiado por, na minha opinião, grande música, foram parar até no número um da Rolling Stone Brasil. Por falar nisso, é impressão nossa, ou o folk-capônico-alto-astral dos caras está sofrendo uma ligeira, porém perceptível, e interessantíssima guinada rumo à meandros soul já evidentes na garganta abençoada do seu vocalista, Damm? É esperar pra ver. Se liguem, que a estrada dessa família tá mais “out of the blue and into the black (music)” do que nunca, vamos ver...

Mas o rock não nasceu ontem nem anteontem, e a galera que rala a mais tempo do que um hype recém esquecido também anda rosnando por aí. Retrofoguetes continua sem vocal (hehe), e continua fazendo um dos shows mais divertidos e profissionais que existe por aí (também em termos além-Bahia, podes crer!). Paulinho Oliveira prova um bom gosto miserável no seu disco de estréia. Bom gosto na escolha de timbres, na “ambiência”, na sonoridade “grandiosa”...Rock com os dois pés fincados nos anos 60/70, provando que a busca pela boa música não está, necessariamente, relacionada com a busca pela “contemporaneidade” vazia dos garimpeiros de superfície. Aliás, nem estou descobrindo pólvora nenhuma, vide a quantidade de bandas/artistas, novos/velhos, no mundo todo, cuja percepção musical se pauta mais pela localização da própria sensibilidade no âmbito da música rock, seja lá de que época/estilo for, do que pela “integração” à movimentos musicais “modernos” cuja sobrevivência depende mais do contexto imediato do que de uma possível (porém improvável) visão “iluminada”. Ou vocês não ouviram os novos lançamentos de Bob Dylan, Jerry Lee Lewies, Eric Clapton com J. J. Cale, Kate Bush, o novo (?) folk-rock americano, e tantos, tantos outros, que lembrarei enquanto escrevo? Vamos voltar, por enquanto, aos nossos limites geográficos.

A Theatro de Séraphin, que estava com um grande disco semi-pronto em mãos (eu ouvi, tava bom pra caralho mesmo, e seria, provavelmente, um dos melhores lançamentos do ano), sofreu um baque com a saída de seu guitarrista Candido soto Jr, e teve que voltar ao estúdio para, com César Vieira (ex-brincando de deus), refazer as guitarras. Decisão um tanto polêmica, porém, perfeitamente compreensível dentro do conceito artístico “denso” e “fechado” da banda. Vamos aguardar que a máquina tá ficando azeitada novamente... Quanto à Cândido, seu retorno ao Cascadura acontece no melhor momento da banda. Seu quarto disco, Bogary, já é considerado um dos melhores discos de rock do ano, e isso a nível nacional. Críticas, em geral elogiosas, algumas bastante efusivas, já colocam a banda num patamar em que poucos por aqui já tenham conseguido. Quem vai escalando rumo a este patamar, lenta, porém, firmemente, é o mpb/rock/jazzy (não necessariamente nesta ordem) de Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta. Também lançaram um cd elogiado e 2007 promete muito pros caras, que, parece, já estão preparando seu segundo rebento. Gravando também está a inoxidável, impermeável, indestrutível, Koyotes, liderada pelo (no mínimo) polêmico e incisivo Miguel Cordeiro. Sua verve continua afiada e é um alívio saber que ainda temos caras que se preocupam em escrever letras críticas, irônicas e mordazes, tipo “dedo na ferida” não? Honkers mandando cds (isso mesmo, no plural, a não ser que tenha havido mudanças) para breve. Sangria gravando também, e prometendo o disco mais pesado, sujo e agressivo já lançado nestas plagas, ao menos no que depender do que vemos/ouvimos/ensurdecemos em shows. Aliás, foi da Sangria uma das melhores iniciativas neste ano, o projeto Sangria convida, juntando, no Rock in Rio convidados de fora com bandas daqui, no evento mais próximo à um festival decente que tivemos. Vandex, Lou, Stancia, Radiola, Starla, Brinde, Matiz, Estrada Perdida (breve, lançando um dvd de um show lotadaço na Zauber), Los Canos, Os Miseravão, King Cobra, Demoisele, Berlinda (é, falei de minha banda, pronto! e estamos gravando um ep também), Vestido Preto de Valentina, a cena Metal, as bandas dos subúrbios (destaque para Almas Mortas) e tantas outras que minha memória seletiva & sequelada não permite citar agora. Pra todos os gostos, né não? Vamos em frente..

É óbvio que nem posso sair aqui falando de tudo o que houve. Nem é minha intenção, nem tenho saco pra tanto. E nem competência também, visto que não freqüento nem tento ouvir tudo o que rola na cidade, mesmo por que de grande parte nem gosto mesmo. Mas tem algo surgindo por aí. Se vai ser mais um bater de asas de galinha, ou um vôo cego, ou uma revoada para São Paulo, quem sabe?

Mas se fazer é preciso, reclamar e criticar também são. E muito. Para além de nosso “caráter cordial”, existe a necessidade do atrito, do questionamento. Por que se existe a vontade de aperfeiçoamento, da mudança, certamente não é por causa de uma infrutífera indolência crítica. Rock nesta cidade é, ainda, um estranho o exótico. E, neste momento, a quantidade de bandas somada a uma quase darwinista seleção natural faz com que a qualidade venha se impondo aos poucos. Ainda falta muito. Quanto a festivais... Que piada! Nada de relevante nesta terra, só a concessão de uma esquina esquecida em eventos gigantes que, em minha opinião, não acrescentam lhufas ao underground soteropolitano. Mas, neste sentido, as expectativas ficam para 2007, e são boas.

Vamos nessa, meu povo. Vamos arranhar a reputação desta Bahia, endurecendo, distorcendo guitarras, sacudindo poeira, dedilhando psicodelia e gritando bem alto: “I´m rock and I´m PROUD"!! Arrepiando só pela vontade de ouvir e de tocar.

Por enquanto é só pessoal.

Antes tarde... Funk In Piece, Mr. Dynamite James Brown, este mundinho ficou muito mais chato agora.

Sergio Cebola Martinez