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Saturday, August 21, 2010

Mark Hollis


Por onde andará Mark Hollis? Esta é a pergunta que faz seus vários fãs. Eu incluso. Você acha que não conhece? Aposto que, se você tiver mais de 30, conhece esta aqui . Mas esta canção é apenas um lado da grande (mas não tão reconhecida como tal por aqui) Talk Talk. Quando se fala nesta banda, a imagem que nos vem à cabeça, é aquela de bandas de sintetizadores pop dos anos 80. Eles foram também isto, embora com uma qualidade e inteligência bem mais aguda do que a maioria de seus pares. O hit It´s my Life é uma prova de como uma banda pode fazer um hit e manter sua dignidade. Reconheceram? Não? Não importa, vamos adiante.
Depois deste hit, estourado na Europa em 86, a banda solta o divisor de estações (não precisam perdoar o trocadilho...por que todo mundo pede perdão por um trocadilho? Que saco!) The Colour of Spring. Com participação especialíssima do soberbo Steve Winwood (ex-Traffic) pilotando o órgão em quase todas as canções, além do multi-instrumentista Tin Friese-Greene, escudando Mark hollis na composição e produção, o álbum estourou outro hit, I Don´t Believe in You, onde percebemos agora um paulatino distanciamento da preponderância dos sintetizadores, trocados, mas não completamente, por instrumentos “de verdade” (isso NÃO é juízo de valor, pessoas!). Nesta música, e no disco como um todo, as influências declaradas de Mark Hollis tornam-se mais evidentes : Can, Jazz vanguardista, experimentalismo com texturas e extruturas musicais, um certo minimalismo, em suma, tudo aquilo que, bem mais tarde, seria rotulado de pós-rock.
Mas aí...
Acontece que a gravadora dos caras, empolgada com sua escalada nos charts, resolve dar carta branca para Sr. Hollis e seus asseclas. Os dois discos seguintes, Spirit of Eden (88)e Laughing Stock (91) atingem o ápice do experimentalismo da banda. Mark Hollis, o gênio da máquina, e Tim-Friese-Greene, seu braço direito e esquerdo destroem clichês e torcem mentes em dois discaços, desses pra se ouvir de mente aberta, de preferência à luz de velas, em completo silêncio e atenção. Não dá pra você entendê-los fazendo a barba ou retocando a maquiagem (ou os dois). I Believe in You é uma grande canção deste disco. Ambiência, texturas, silêncios, melodias frágeis, refrões esparsos...nada de convencionalismos. O problema é que a EMI se assustou com os rapazes (mas qual é o problema destes caras?!!) e passou a cobrar uma maior “responsabilidade” comercial. Aconteceu algo parecido, nos anos 90, com uma banda que percorreu caminhos semelhantes. O Wilco. Lembram de Yankee Hotel Foxtrot? Pois então. Na raiz dos "problemas" das duas bandas, podemos encontrar origens iguais, o kraut rock do Can, principalmente e a total liberdade estética provocada por um anterior sucesso comercial (no caso do Wilco, o disco Summerteeth, grande sucesso). Óbvio, a solução foi idêntica. Assim como o Talk Talk abandona o barco da EMI pra se juntar à Polydor, o Wilco se manda da Warner para a Nonsuch por conta própria e risco. E pela Polydor, o Talk Talk lança o disco mais experimental, o Laughing Stock. Aqui, um bom exemplar deste cd.
Mark Hollis é um daqueles de rara estirpe, que nunca se deixou intimidar por pressões do mercado. Soube, na verdade, se aproveitar dele, de forma inteligente e criativa, visto que os dois primeiros discos do Talk Talk são também muito bons, só que numa praia mais comercial. Synth pop de primeiríssima grandeza. A banda acabou, por razões nunca bem explicadas, depois do Laughing e, apenas sete anos depois, ele lança o seu único disco solo, por sinal, brilhante também, na mesma praia sonora da trilogia abençoada do TT. Depois disso, o homem sumiu do mapa musical. Nada de shows, apenas participações esporádicas com outros artistas, e só. Uma pena. Bandas como o já citado Wilco, na sua fase mais experimental e Radiohead devem muito à coragem e criatividade deste que é um ídolo pessoal. Por onde andará mr. Mark Hollis?

Sergio cebola Martinez