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Friday, July 28, 2006

Entrevista: PAULINHO OLIVEIRA - Um Bom Motivo

Foto: Karina Muniz
Meninos e meninas, eu ouvi!
Está perigando este segundo semestre já se tornar histórico pela qualidade de três lançamentos quase simultâneos. Bogary, do Cascadura (já nas bancas), Tristes Trópicos, da Theatro De Séraphin ( fantástico, previsto para breve, e em breve também com entrevista por aqui) e o motivo deste post, Paulinho Oliveira, com o seu primeiro rebento solo Um Bom Motivo. Três discos bem diferentes entre si, mas com uma coisa em comum. Marcam, provavelmente, a total independência de Salvador e seus produtores em relação ao eixo Rio-São Paulo. São três discos com sonoridades distintas, conceitualmente diferentes, de estilos bastante diversos porém, todos dentro do que podemos chamar de puro rock ´n´ roll. Aquele mesmo que chamam de velho, ultrapassado, etc etc etc...Mas tão moderno. Seja pelo peso, emotividade e crueza do Bogary, seja pelo lirismo denso, angustiado e belo do Tristes Trópicos ou pela riqueza orgânica, pura e multifacetada das nove canções de Um Bom Motivo, esse trio, somados a (poucos)trabalhos anteriores de outras bandas feitos por aqui
mesmo, alcançou um novo patamar. Um patamar pelo qual, agora, todo mundo vai ter que se mirar. Novos paradigmas de gravação, de busca, acertos e erros. Um novo (salutar) problema. Acredito firmemente que o rock em salvador, as bandas daqui, nunca deveram um tostão furado a nenhuma grande-coisa-hypada-dos-grandes-centros-de-musica-de-manifesto-definitivo de qualquer lugar. Só não aconteciam. Aí a questão é outra. Não cabe aqui. O que aqui me cabe é botar pilha, sim, pra essas três bolachinhas prateadas de que gostei pra caralho e que, real, e sinceramente, recomendo desde já. Agora é conosco, público, fazermos valer o empenho desta galera não tão nova, mas tão, ou mais, vigorosa, quanto estes new kids on the web. Possuidores daquela chama intensa de vontade, sinceridade, criatividade e ferramentas, físicas, intelectuais e emocionais para nos enviar canções para aprender e sorrir.

Com vocês, Paulinho Oliveira,
obrigado e parabéns, meu velho.


ÓCULOS DE CEBOLA - Paulinho, um histórico sobre sua trajetória musical.

Paulinho Oliveira - Eu considero o início de minha carreira na cena da cidade, a Stone Bull em 92, numa época em que tinha a Úteros Em Fúria, bandas cantando em inglês, brincando de deus, as pessoas sonhavam com carreira internacional, por causa do Sepultura, e Angra e Viper...A banda era eu, Lefê ( Luis Fernando ), Maurício Braga e Fernando Cueg, este hoje “pastor”. Esta banda eu formei mais ou menos nos moldes do Led Zeppelin, que era o que eu queria ser na época...e ainda quero! Então procurei os músicos que, na época eram os melhores, de um circuito colegial de onde veio Emerson Borel, André T, Daniel Boaventura, por exemplo...e, paralelamente, o pessoal da Escola Técnica...Depois, já como um trio (sem Fernando), fomos pros EUA com um tape na mão pra tentar alguma coisa, e acabamos fazendo alguns shows por lá, mas a banda não durou, obviamente...

ODC – Obviamente, por que?

PO – Na verdade, a relação se esgotou, a gente morava junto...

odc – Ninguém se agüentava mais...

PO – Não, não mesmo...na verdade foi muito desgastante...foi muita dureza por lá...a gente, na verdade foi pra estudar na Escola de Música ( MI,Musicians Institute, Hollywood- CA), na verdade uma desculpa pra ir tocar lá...

odc – Conseguiram alguma projeção?

PO- Até conseguimos, no final, já tinhamos retorno, mas a gente não queria mais...EU não queria mais. Tocamos no Roxy (tradicional casa de shows, por onde já passaram Van Halen, Guns n´Roses, Led Zeppelin, Bob Marley...e Stone Bull), o cara da casa já queria marcar outros...mas não rolava mais, passagem de volta já estava comprada e tudo...

odc – Back to Brasil...

PO - Aqui, fazer rock em inglês já não rolava mais, em 95, não tinha saída...a cena já estava bem diferente de quando saímos...quase não tinha mais Úteros, ou já não tinha Borel na banda..tava estranha ( a cena ) na verdade...Dr. Cascadura fazia shows basicamente no interior...tinha pouca popularidade aqui, no início de 95...quem emergia neste momento era a Dois Sapos e Meio e a Dead Billies, que surgiu nessa lacuna, da Úteros e Cascadura...e da Stone Bull também, de certa forma...

odc – Como era o público nesta época?

PO – O primeiro show que fizemos neste retorno, foi com a Dead Billies, no Hotel Pelourinho, para 1200 pessoas!! Coisa que hoje só é possível ou em evento de metal ou show de Pitty...Antigamente, se a gente tocava pra 300 pessoas, era fracasso...

odc – Comparando com hoje...

PO – Hoje está péssimo...não em termos de banda, artisticamente, que está ok, tá bom, boas bandas e tal...como sempre esteve...você pega 93, 94, a gente tocava pra 800 pessoas, mole, hoje em dia 50 pessoas é legal...na época, a gente poderia cancelar um show com esse público!

Odc – O que terá acontecido?

PO – Não sei...acho que talvez tenha se pulverizado muito...muitos “estilos”...o público de metal, por exemplo, ainda é enorme, não tanto quanto naquela época, mas é mais que o do rock...Todo mundo, antes, ia pra qualquer show...o que Nei fala hoje, da Sangria ser uma banda que pode “reunificar” esses públicos, naquela época, a Stone Bull fazia naturalmente...e a galera do metal ia pra Úteros, Cascadura, e vice-versa...isso hoje não existe.

Odc – E o fim da Stone Bull?

PO – No fim, aproveitamos uma popularidade de uma matéria no Fantástico, sobre a MI, recebíamos cartas do Brasil todo, de fãs..foram os melhores momentos, no fim...Fizemos, acho, que o primeiro show de rock do Idearium, 95, Stone Bull e Carpe Bier, o primeiro Julho em Salvador, que foi sensacional, com Dead Billies também, shows lotados...Depois, nos tornamos a banda de apoio de Márcio Melo, ainda desconhecido, promovemos o disco Pop Chumbado, milhares de percussões, Rangel pressionando...enfim, ele queria fazer uma coisa meio pop, meio, rock, meio Bahia...e nem tico e nem taco. E, ninguém sabe disso, cheguei a fazer um projeto com Emerson Borel, em 95, gravamos uma demo com quatro ou cinco músicas, acho que Iure Bonebraker ainda tem isso gravado...era eu e Borel, nas guitarras, Ivan, meu irmão no baixo, Polho cantando, e testamos alguns bateristas...Bonebraker foi ótimo, deveria ter permanecido, mas...ele era muito ocupado e tal...Nei Bahia fazia as letras com a gente...a gente não sabia fazer letras em português, Nei que auxiliava, ele tem letras com Dr. Cascadura, Nicarágua e outras...

Odc – Falar em Dr. Cascadura...e sua entrada na banda?

PO - Fomos, eu, Borel, Ivan, Maurício Braga e Polho para um show do Cascadura em Lençóis, numa tentativa de “seduzir” Maurício pra entrar neste projeto novo, o que acabamos não fazendo por que ficávamos todo o tempo na esbórnia, ninguém queria falar sério sobre nada...Jimmy Page estava lá, na real, vimos nosso ídolo...Bom, no retorno, no início do ano, com a saída de Cândido, dia 5 de Janeiro de 96, fui convidado pra entrar na banda, junto com Maurício Braga. Nesta época, o Dr. Cascadura contava com três guitarras, eu, The Flash e Tony ( ambos atual Demoisele), Alex Pochat, no baixo, Fábio, claro, e Maurício Braga. Fizemos, eu e Fábio, quatro músicas, logo nos primeiros dias, Cantor de Jazz, Doze e Meia...eu já entrei com quatro quase prontas, nenhuma das que tinha feito com Borel...

odc – E o Entre ( disco do ainda Dr. Cascadura, só lançado oficialmente em 99)?

PO – Esse disco foi composto lentamente...mas, quando saiu o #1, que demorou de ser lançado, o Entre já estava quase todo acabado, inclusive Um Bom Motivo, a faixa título de meu disco que vai ser lançado em Novembro, são das seções de Entre, era pra entrar no disco, mas não finalizamos a letra, tem até uma demo dela com o Cascadura...Neste disco eu queria dar uma contribuição a mais pra banda, como eu vinha de formações em que eu era o único guitarrista, ou o principal, eu me concentrei nos teclados, piano, fender rhodes, cítara, orgão, violões...e até guitarra!

Odc – Como você classificaria o Entre?

PO - Na verdade, o Entre deveria ter sido um disco “típico” do Cascadura, já que o posterior ( Vivendo em Grande Estilo ), foi uma retomada de Fábio em um projeto mais pessoal, dele, e no #1 ( primeiro disco, lançado em 97), aquela banda já não mais existia, o Vivendo, já é outra banda, outro nome, agora Cascadura sem o Dr....eu vejo este meu disco, Um Bom Motivo, muito mais como uma sequência do Entre do que o próprio Vivendo, e do Bogary...

Odc – E você ficou no Dr. Cascadura até...

PO – Até 2000..na verdade, esta banda, de que fiz parte, já estava acabando desde 99, por que quando Maurício sai da banda...quando fizemos o Ultrasom ( o banda antes da época), alí fechamos um ciclo...Quando fizemos o lançamento do disco, no teatro Acbeu, já foi com outro baterista, Vandinho, Pochat já estava se tornando um artista solo, com outras aspirações, meio “ aprisionado” na banda, hoje que eu percebo que foi, na verdade, esse o motivo real, mais ou menos como a saída de Tony, que também tinha outras aspirações...aí Duda entra ( Atual Pitty), e passamos a ensaiar no seu estúdio, no final de Itapoã... aí me ficou totalmente inviável ensaiar com os caras, não tinha carro, meu equipamento não podia ficar lá, que eu estava gravando com Paquito, perto de lançar seu disco solo...a logística, então precipitou minha saída da banda mas, é claro, não era ( só ) isso, como os outros também não foi só razões como brigas, etc.

Odc – Seu trabalho solo começa aí?

PO – Só comecei a compor as músicas do meu trabalho solo em 2001, uma nova com Fábio, Amanhã é Outro Dia, e todas as outras com Glauber...este disco foi basicamente composto entre 2001 e 2003...

Odc – Onde você estava neste período?

PO – Logo depois que eu saí do Cascadura, foi uma época que as pessoas tomam conhecimento do trabalho de Paquito, quando ele voltou pro cenário underground, de onde ele estava fora desde os anos 80, fazendo muitos shows no Pelourinho, e paralelo a isso, eu já ia montando meu trabalho. depois gravamos o disco Falso Baiano, em 2001, com Paquito, que foi lançado em 2002.

Odc – O disco novo, Um Bom Motivo.

PO – Bom, eu levei um ano aprontando este disco, são nove músicas...um trabalho solo...

odc – Falar nisso, você acha que aqui existe alguma “resistência” ao trabalho solo de um artista de rock?

PO – Não é só daqui...é no Brasil...eu acho que as pessoas estranham tanto...que elas nem citam o meu trabalho, em entrevistas, em matérias...por causa do hábito de citar sempre banda, é muito estranho isso...eu não sei porque, acho que é falta de referência...não tem um artista de rock, solo, tipo...Peter Frampton...Elton John...Elton john já foi um cara de rock, sim, anos 70...david Bowie, Marc Bolan...o que é uma bobagem, por que rock, na verdade é coisa de artista solo... Chuck Berry, Little Richards, Elvis Presley...essa coisa de bandas é mais uma coisa inglesa...Beatles, Stones...e a responsabilidade do artista, é muito maior...ele que recebe nos peitos, sozinho, todas as críticas e elogios...minha vida toda havia sido com bandas, e eu sempre tive a sensação de que poderia ir mais longe sozinho...

odc – E agora, amarras soltas...

PO – Um Bom Motivo, é um disco pensado como vinil, só nove faixas, 35 minutos, nos moldes dos discos que me formaram...ele possui um conceito, não é só uma coletânea de canções...me disseram pra colocar mais uma ou duas, pra completar dez...por que? E por que não solo? Porque vou inventar um nome de banda só pra lançar o trabalho? É um disco de Exposição, eu estou me despindo...mesmo os parceiros, ao escrever as letras, pensavam que elas seria cantadas por mim...chega a ser quase autobiográfico, elas falam de ( citação de Um Bom Motivo): “Motor ligado, dar partida e seguir, agora é pegar ou largar, pé no acelerador, você vem comigo?, se não vem, eu vou, com ou sem você, agora me dê um bom motivo pra eu te convencer...ou seja, você que me de um bom motivo para eu perder meu tempo pra te convencer a me seguir...é por aí, eu estou solo, e vou seguir com ou sem você...Tudo de que me alimentei ao longo de minha vida está aí exposto...Beatles pra caralho, Byrds, Pink Floyd, Led Zeppelin, Beach Boys, Kiss, Rolling Stones, os menos conhecidos tipo Joe cocker, Thin Lizzy, Edgar Winter, Paul, John e George solos, Roger Waters...quer mais?...e em nove músicas! Goste ou não goste, sou eu exposto...ele foi feito também para me agradar...sem truques técnicos, só usamos instrumentos reais...de mentira só tem um tímpano, que era impraticável pra gravar, um piano, porque não conseguimos nenhum decente pra gravar...mas todo o resto era real, orquestra, sopros, cello, oboé, clarinete, flauta, trompa, guitarras catadas a dedo pela cidade, baixo Hofner, salas específicas pra gravar a bateria, por causa da acústica, violões gravados em uma sala de balé, em banheiro, no corredor, tudo pra conseguir a sonoridade real que a gente buscava...André T tinha uma guitarra de 12 cordas que soava como Jimmy Page, fomos lá atrás dessa guitarra...assim por diante...Já houve época em que os artistas eram mais espontâneos...hoje eles são fabricados, eles se auto fabricam...Pode ser ingênuo falar isso mas... esse disco eu fiz pensando em não fazer truques...então não tem malandragem, é um disco solo mesmo, não vou colocar um nome de banda pra facilitar o processo, são essas nove músicas mesmo, é um trabalho “de verdade” e exposto...é ingênuo pra caralho falar isso mas...alguém tem que fazer isso...estou de saco cheio de ligar a tv e não gostar de nada, de ver as bandas genéricas brasileiras, de bandas inglesas...mesmo porque eu nem gosto dessas bandas (novas) inglesas...

Complementando: Um Bom Motivo está previsto para Novembro. Vale a pena esperar.

Sergio Cebola Martinez

Thursday, July 27, 2006

Favoritos de Sempre

THE BYRDS


Brevíssimo, entrevista com Mr. Guitar Hero Paulinho Oliveira, Ex- Stone Bull, ex-Cascadura ( Entre ). enquanto isso, uma linguiça de primeira pra todos. Vídeo e letra de Eigh Miles High, de 1966, para aprender e cantar junto.

A, insisto, MELHOR banda americana de sempre, em uma canção de 66, talvez o primeiro rock psicodélico, ou um dos, em que, para muitos, possui óbvias alusões à viagens espaciais ácidas, fato esse negado por Roger MacGuinn, o mestre das 12 cordas, aqui, segundo o próprio, emulando o free sax de John Coltrane, seu ídolo, em um solo pra lá de alucinógeno. Esta canção está no fantástico Fifth Dimension
, do mesmo ano.
Formação da banda:
Roger MacGuinn, guitarra e voz; David Crosby, guitarra e voz; Chris Hillman no baixo e Michael Clarke na bateria. Matadora ou não?

Aí vai a letra, para vocês tirarem suas próprias conclusões sobre a polêmica. Polêmica esta, aliás, coincidente com uma outra que todos conhecemos: Lucy In The Sky With Diamonds, afinal, é sobre o que?
Segundo McGuinn a letra ( de Eight Miles High ) é sobre o medo de avião que acabou por afastar seu antigo vocalista e tocador de tamborin, Gene Clark, da banda.

Eight miles high and when you touch down
You’ll find that it’s stranger than known
Signs in the street that say where you’re going
Are somewhere just being their own

Nowhere is there warmth to be found
Among those afraid of losing their ground
Rain gray town known for it’s sound
In places small faces unbound

Round the squares huddled in storms
Some laughing some just shapeless forms
Sidewalk scenes and black limousines
Some living some standing alone

Boa viagem e volte sempre!


















O homem e sua arma em 1971


Sergio Cebola Martinez





Tuesday, July 25, 2006

O PRAZER É TODO SEU!


Nazareth - 1973 - This Flight Tonight


Aproveitando o final dos comentários anteriores, graças ao youtube, uma amostra grátis do Nazareth, para assistir e comentar. Enquanto aguardamos a nossa próxima entrevista que rolará breve. Video dedicado a Mr. Cláudio Escman Moreira.

Curiosidade: Essa canção é de Joni Mitchell, que já merece um mega-post à parte. Trocentas canções que todo mundo conhece e ninguém sabe que é dela. O disco da moça que tem essa música é esse aí embaixo, Blue, de 1971. Obra-Prima.


Sergio Cebola Martinez








Thursday, July 20, 2006

Entrevista: CASCADURA




O que se pode dizer, como primeiras impressões sobre o Bogary é que é um disco muito, muito intenso. Um trabalho sem excessos, com uma produçao fantástica, uma sonoridade que alia o peso tradicional do Cascadura com um grande cuidado com os climas, as nuances. As letras sempre beirando um clima confessional, em uma auto-análise destes anos de estrada, anos de esperança e tropeços, porém sempre intenso... como o disco!
Parabéns Cascadura, deste fã de primeira hora, valeu pela entrevista, e, galera, já está nas bancas, procurem seu exemplar e curtam. sem contra-indicações.

Sergio Cebola Martinez

Entrevista CASCADURA


Óculos de CebolaE aí, Fábio, dê suas impressões sobre o Bogary, como você o insere dentro da discografia da banda.

Fábio Cascadura – É o melhor disco da banda, melhor disco que a gente já fez, e é o disco que resume os últimos três anos do cascadura, o que a gente vem passando e vivendo...e a galera vai conferir e dar seu parecer. O que eu tenho a dizer é que é o disco que eu mais gostei de fazer.

OdcE você, Tiago, quais as suas impressões?

Tiago Trad - O Bogary foi o segundo disco de que participei, e acho que foi o disco mais fácil, desde que eu entrei, em 2002, começou com uma promo, que a gente fez com André T., já tinham quatro músicas nesta promo, que não entraram no Vivendo ( Vivendo em Grande Estilo, álbum anterior), e dessa parceria, rolou o Bogary, que quando entramos no estúdio não teve muita coisa que mudar, não, fizemos uma pré-produção em São Paulo, eu e Fábio ensaiando no estúdio de Duda ( Pitty, baterista), algumas coisas ainda sem letras terminadas, mais para ir passando arranjos e tal, mas quando a gente entrou no estúdio fluiu tudo muito rápido, esse lance da parceria com André,a gente já tinha uma confiança muito grande, deixar ele bastante à vontade, isso ajudou muito, a gente fazia dois takes de cada música e vamos nessa, e a proposta do disco foi justamente a de não ter milhões de guitarras, blá, blá, blá, e aí você vai escutar e perceber que tem alí musicas de duas guitarras, três guitarras, a gente contou também com a contribuição de Jô ( Jô Estrada, Lacme), na composição do disco, que também ajudou muito...

OdcTambém, na composição das músicas?

TT – Não, nos arranjos, ele colaborou bastante nos arranjos, e trabalho de vozes e tal, que enriqueceu bastante o trabalho, foi um núcleo muito fechado, tava eu, Fábio, Jô e André alí, Fábio, André e Jô se revezando no baixo, guitarras... e foi legal por que a gente também não tinha muito espaço para botar muita coisa, botar quinhentas guitarras...não tinha um guitarrista que estava alí querendo fazer milhões de arranjos dele...as músicas fluiram muito fácil...

OdcE lançamento, pretendem fazer algum show de lançamento aqui em Salvador?

TT – A gente tá indo agora pra São Paulo e Rio, fazer a divulgação lá...mas a gente tem vontade de fazer shows aqui, daqui a uns dois meses, de repende, com uma produção bacana, tocando todas as músicas, com um bom acabamento, é o que a gente quer fazer agora...segurar um pouco...aprimorar...

FC – A gente já tem agendado dia primeiro em São Paulo, no Belfiore Bar, e dia 9 no Rio no teatro Odisséia.

OdcE sobre essa nova formação, fale um pouco sobre a entrada de Tiago Aziz na banda...

FC – Tiago entrou na banda porque já estava muito próximo da gente, Tiago (Trad ), já tinha tocado com ele, recomendou...

TT – Foi o seguinte, a gente tava com dificuldade pra achar um baixista, com datas pra fazer, com o Cachorro Grande, em São Paulo, Rio, no Circo Voador, aí me veio a idéia de falar com o Tiago, com que já havia tocado no Inkoma, e eu sempre lembrava por...positividade..e quando liguei pra ele foi tudo muito rápido, liguei de orelhão, pro celular, sem muito tempo...e em uns trinta segundos fechou tudo...foi fácil desde a primeira vez que a gente se falou...”velho, tem um show pra gente fazer e tal...” aí ele, “velho, não quero saber mais nada, tou nessa!”... e tá aí tocando...

OdcE Candinho, nesta história toda?

FC – Candido, por acaso, foi uma sugestão de Tiago também...a gente estava passando pelo mesmo processo, por que o disco foi gravado por eu e Tiago, mais dois produtores, e os produtores têm os seu projetos paralelos...André tem seu estúdio, uma frequencia de trabalhos enorme, não ia poder acompanhar a gente no palco...Jô já tava embalado pra ir com o Lacme pra São Paulo, investindo no projeto dele...e agente procurava outras pessoas que pudessem apresentar nosso trabalho no palco...o processo de entrada de Cândido foi natural também, sugestão de Tiago, ele era um ex-Cascadura... Tiago tinha acabado de ir em um show da Theatro de Séraphin ( banda em que Cândido é guitarrista, compositor e um dos fundadores, prestes também a lançar seu primeiro disco, Tristes Trópicos. Nota de Cebola ) e ele falou: “velho, vamos chamar Cândido, e tal...” daí eu pensei, pô será que ele tá a fim, vivendo uma experiencia completamente diferente da que ele viveu quando era do Cascadura ( 92 à 95 )...hoje tem um estúdio, tá casado, outra banda, filho tal, será que ele estaria a fim de encarar? Foi muito bom ele ter se colocado “a fim”, porque casou todo mundo trabalhando na mesma frequencia...

OdcEm relação às letras...

FC – São extremamente pessoais...acho que sempre foram pessoais...

OdcHá algum conceito no disco...

FC – Não, inclusive as músicas foram escritas em diversos períodos, diversos momentos, fazem parte desse período de quatro a cinco anos... a última música do disco foi feita em 2000, que é Adeus Solidão, e a primeira, em 2003, quando fomos passar nosso primeiro período em São Paulo...enfim, são letras de momentos diferentes, mas que dizem respeito à vida que a gente tem levado com a banda, a perspectiva que a gente tem com as coisas que a gente tem se deparado...as pessoas vão encontrar referencias à religião, ao amor, relacionamento, frutrações, a defeitos pessoais, inveja, egolatria...enfim, tudo isso e também prazer, esperança, vontade, tudo de uma forma muito pessoal, mesmo porque neste momento não dava pra ser de outra forma...

OdcE musicalmente?

FC – Tudo que a gente ouve influencia... a gente tem uma tendencia muito grande a criar as coisas a partir da tradição mas, musicalmente, a gente hoje não tem nenhuma referencia direta...Beatles, Stones, e tudo mais que veio antes e depois, fazem parte da dieta da galera...tudo interfere.

Tuesday, July 11, 2006

O que você gosta na música?

Foto: Thiago Fernandes




























O objetivo desta série que se inicia é registrar depoimentos de pessoas de alguma forma envolvidas com essa nossa querida obsessão, seja músico, produtor, jornalista ou, a razão final de tudo isso, o fã. A forma é livre, o tamanho também ( não exagerem queridos leitores ) e o conteúdo mais ainda. Neste lançamento, um depoimento sincero e emocional do baterista José Wilkens Dantas, da Theatro de Séraphin, banda de Salvador prestes à lançar seu primeiro disco, naquele momento crucial da vida de um músico vendo parte de seu sonho tornar-se realidade. Eu que agradeço, Dantas, essa colaboração, e botem pra fuder, Theatro De Séraphin, vocês sabem quem são!


PARA ONDE MESMO QUEREMOS IR , Por J W Dantas


E se for apenas um desejo de, talvez, subverter. Ficar imune a tantos padrões que refutamos com orgulho. Tomados por um sentimento que nos garante...(tudo bem, não sabemos ainda). E o que sabemos é que nos é valioso. Definir o que nos cerca é o que fazemos a todo tempo. Quando subimos no palco (ou sem ele mesmo) e tocamos nossa música entre aplausos, desconforto e fúria. Será mesmo uma tentativa de abraçar estas idéias? Dar impulso a tantas manifestações? Resolvi lembrar da minha primeira banda. Sabe aquela que você ainda tá no colégio ( tem quem continue com ela até hoje ) e os teus amigos também querem tocar? Não lembro ao certo mas, de repente, me vi tomado por essa idéia. Claro que ninguém tocava porra nenhuma. Resolvemos tocar rock. Foda-se. Ergamos as armas para aniquilar o inimigo, como diria algum hino europeu ( vamos convir que, nesta idade, até um abridor de latas é seu inimigo.

Pouco tempo depois, para minha surpresa, todo mundo comprou seus instrumentos, tudo de quinta, mas estávamos muito felizes para pensar nisso. Conseguimos um quarto para ensaiar os primeiros acordes, e usar o que estávamos aprendendo. Sem falar nas outras coisas...que eu nem lembro pra falar a verdade. Uma prima resolveu cantar com a gente. Tínhamos bateria, baixo e guitarra. Era nossa orquestra (um tanto barulhenta ) mas a sensação era maravilhosa. Conseguimos até manter um ritmo de ascensão criativa. Tudo regado a bebida, fumo e muita...superação. O guitarrista começou a namorar nossa vocalista. Ótimo. Logo seria eu também faturando. Terminamos a banda. Melhor que tenha ficado somente na nossa lembrança.
Hoje, em vias de lançarmos o primeiro disco da Theatro de Séraphin ( cujas baterias são assinadas por este que vos escreve ), me sinto de novo com aquela sensação. Dá vontade de mostrar para os amigos. Ao mesmo tempo, falta tanta coisa a fazer...Mas a idéia é esta, mostrar para os amigos. A diferença é que hoje queremos mostrar não só para os amigos. Para variar, mais uma vez, vivemos esse paradoxo que mais parece uma enxaqueca, sempre voltando pra irritar. A cidade nunca esteve tão asfixiante, os lugares fechando, as produções encolhendo cada vez mais. Paralelo a isso ( heroicamente ) estamos conseguindo produzir trabalhos de grande relevância e de apuro técnico satisfatório. Sem precisar citar nomes ( não seria esse o mérito de nossa questão ), nunca criamos tanto e tão vorazmente. O que possibilita, creio eu, que tenhamos um cenário de bandas tão singulares no que se propõe cada uma delas. Será que existe mesmo uma proposta ( mesmo que intuitiva ou subjetiva ) de dar visibilidade, ainda que se restrinja ao chamado “underground” ? Já nos orgulhamos até de gerações vitoriosas. Mas não há o que se comemorar a décadas. O tom pode até ter ficado carregado. Eu tomo a defesa. Não sou um internauta de fato. Sofro até de uma “hipissefroidiana”. Agradeço desde já o espaço à Cebola. A tecnologia parou de me emocionar a algum tempo. Consigo perceber, porém, que tem sido ela a única difusora do que criamos. Portanto, que venham mais podcasts, que se discuta mais ( ampliando os enfoques ) o que se produz de música e qualquer manifestação artística que seja íntegra no que se propõe. Que a nossa arte adquira status de produto. É assim que o mecanismo gira.

Então, que a mídia enxergue o que não alcança. Melhor que não enxergar por razões nefastas. Ainda ressalvo o lirismo de nossas letras. Que só confirmam ( na minha humilde opinião ) a pureza, a intensidade e um certo descompromisso. Diferente do que nos restringem a “consumir”. Parece ter chegado a hora ( e chega desse papo de ciclos ) de assumir este desejo. De romper essa neblina que nos mantém parados no acostamento. Por que a idéia de se fazer um festival que venha, eventualmente, a entrar no calendário nacional, contemplando profissionais e público, servindo de vitrine para as bandas, soa sempre como um disparate? “Saudade que estraçalha a serenidade”, certamente, resta agora se perguntar para onde mesmo queremos ir. Artur (Artur Ribeiro, vocalista, guitarrista e compositor da Theatro de Séraphin. Nota de Cebola) tem me feito refletir sobre essas coisas nos últimos dois anos com suas letras tão lindamente inquietas. Não quero dar um ar de levante ( ou coisa parecida ). Precisamos de uma “big” revolução na difusão de nossa música. Não dá mais para escorrer pelos dedos como cinza de cigarro. Deixo ainda um salve para nosso grande brother Rogério e vamos em frente.

A propósito, assisti a um show do Eurochannel. Arno, live in Brussels. Não conhecia, achei maravilhoso. Todos os músicos pareciam ter mais de quarenta anos. Muita energia nas guitarras e baladas ásperas ao piano. Perfeito para essa molecada que usa o rock como bandeira para esse narcisismo pueril de reality shows. Destaque para o vocalista. Uma voz carregada, mas emocionante.