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Sunday, June 10, 2007

Anjos e arcanjos repousam neste éden infernal*

* Ave, Lucifer ( Arnaldo Batista/Rita lee/Élcio Decário)

Terceiro álbum dos Mutantes, meu predileto. De 1970, a divina comédia ou ando meio desligado retrata uma banda um pouco mais distante de suas origens "tropicalistas", guardando deste movimento apenas o caráter anárquico/iconoclasta que, de qualquer forma, sempre estave nos genes da banda. Mais focado na grande paixão musical de seus três fundadores (rock ´n´ roll, psicodelia, hard rock para os desavisados), as 11 faixas do disco são perfeitas em seu próprio jogo. Da grande sacanagem com Chão de estrelas, clássico da mpb, que rendeu um disco arrebentado, ao vivo, no programa de Flávio Cavalcante e, provavelmente, muitas gargalhadas em Rita, Sergio e Arnaldo, passando pela bandeirosa psicodelia de Ando meio desligado ( com certo parentesco bastardo com outra "ode" lisérgica, Eight Miles High, dos Byrds ), finalizando com a hard-psycho-instrumental Oh! mulher infiel, o lp só tem clássico! Boogie garageiro com pitadas latinas, em Quem tem medo de brincar de amor ( de Roberto e Erasmo Carlos!), o "épico" lisérgico à Beatles em Ave, Lúcifer, o pop-gospel-gregoriano de Haleluia, doo-wop irônico em Hey boy, mais Beatles em Jogo de calçada, blues com uma letra bizarra ( "Meu refrigerador não funciona", hilariante ), e a incrível, e uma das melhores deste disco de gemas, Desculpe, babe.

Sem pedir desculpas a ninguém, é a partir deste trabalho que Os Mutantes tomam em suas mãos o controle absoluto sobre sua musicalidade. Sem desmerecer em nenhum instante os fantásticos dois primeiros discos, eu acho que é neste que eles atingem o seu ápice. E sob os seus próprios termos. A linda arte de capa é uma reprodução de gravura de Gustavo Doré para uma edição de A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Nela, Rita e Sergio observam Arnaldo em uma cova infernal. E pra rolar uma pitada polêmica, como não poderia deixar de ser, na contracapa, Rita, Sergio e Arnaldo semi-nus, deitados em uma cama, em uma sugestão nada sutil de um menage a tróis observados por Liminha (se não me engano ) de pé, ao lado da cama. Ando meio desligado fez uma carreira de sucesso, tendo se classificada em segundo lugar para as finais do FIC, Festival Internacional Da Canção, e gloriosamente aplaudida pelo público.

Esse disco marca também um período de grande ascensão popular para os Mutantes. O ano anterior já havia rendido grandes dividendos para o grupo; " Melhor poderia estragar. Em meados de 69, as coisas corriam bem como nunca para os Mutantes. O prestígio conquistado com as apresentações na Europa, o relativo sucesso do segundo LP, e a repercussão da campanha publicitária da Shell começavam a render fama - e até um certo dinheirinho - para o trio." ( Carlos Calado - A divina comédia dos Mutantes, primeira edição, 1995, pág. 191). Já no ano seguinte, foram convidados para substituir Elis Regina em uma temporada de shows no Olympia, em Paris. Aliás, o nome da banda foi sugerido pelo próprio diretor do teatro, Bruno Coquatrix, encantado com a boa repercussão das apresentações dos Mutantes no ano anterior, na França. Deste segundo disco, até em trilha de novela ( Beto Rockfeller, com a música Não Vá se Perder Poir Aí, que foi trilha de comercial da Shell ) eles entraram.

Dentro desse contexto bastante favorável, os Mutantes deitaram e as pedras rolaram para mais um trabalho inventivo, revolucionário, coeso e anárquico ao mesmo tempo. Se for pra recomenar, eu recomendo todos, mas se for pra escolher um só, A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado é minha dica.

Sergio cebola Martinez

9 comments:

Márcio A Martinez said...

Impagável e maravilhosa também é "Meu Refrigerador Não Funciona", hein??? Tudo nesse disco é clássico, indeed...
Embora eu seja um "Rock´n´Roll Lover", o meu preferido ainda é o primeiro, "Os Mutantes", que acho um tanto inusitado para a época, já que o grupo sempre foi considerado "a melhor banda de Rock do Brasil de todos os tempos" (e a turma do hype mistureba dos anos 90 pra cá acha que sabe misturar alguma coisa...).

Anonymous said...

só por bisbilhotice... a foto da capa foi feita no quintal da casa da mãe de arnaldo e sérgio.

Yara Vasku said...

Também é meu favorito. Boa lembrança cebléuris.

cebola said...

É, resta então rezar pra ver se rola por aqui, nesta terrinha obtusa, reedições dignas dos 40 anos do primeiro, do segundo, deste aí, do quarto, do quinto...Seria pedir muito, coisinhas como fazem lá fora com discos como, Sgt. peppers, Pet Sounds, The Doors, Velvet and Nico, etc., etc, etc??? O primeiro disco dos Mutantes é tão relevante quanto qualquer um desses daí, então, cade o dvd com making off, cadê o livro, cadê o cd caprichado, cadê tudo, meu deus?? O ano é 2008, 40 anos dele, quem aposta em "Algo Mais"???

Unknown said...

fantástico esse lp...mas, atualmente troco tudo isso por um bom cd da baranga!!!!!!!!!!!!!!

cebola said...

Taí, Cláudio, sem grandes esperanças de que aconteça, convoco-lhe para escrever um post aqui pra meu blog sobre essa Baranga que você tanto chama de gostosa, rola??

Franchico said...

"gostosa, rola"?

Hum, hum...

Marcos Rodrigues said...

Virgin Towers dos Champs Elysées: toda a discografia dos Mutantes disponivel.

osvaldo said...

no conexao rock desta sexta 10 das noite na 88 FM:
King Crimson - do Red
Frank Zappa - do Apostrophe
Gov't Mule
Trail Of Dead
Bravery - do Sun And Moon
Grinderman - a superb Love Bomb
Johnny Cash cantando Cave
Allman Bros
Chemical Bros - do We Are The Night