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Friday, September 30, 2011

Sem medo e delírio no Rio de Janeiro Pt 2



                           Cabeça motorizada  
Por: Cláudio Moreira

Abri corajosamente caminho pelo gramado sintético já anteriormente vomitado em algum ponto pelo escriba e fiquei lá na frente. Era chegada a hora do show que me levou para a Cidade Maravilhosa: Motorhead. Me preparei para encerrar minha saga roqueira como se fosse morrer naquela noite ou coisa que o valha. O que queria era dizer para mim mesmo: nunca mais vou passar esse perrengue!!!! Como “puta velha” de grandes shows que sou, já conhecia o cenário de afetações e arrebatações ao meu redor. Respondi com um empurrão num mané punk de boutique que estava incomodando me empurrando e levantei com doçura uma garota desmaiada. Sim, era a hora esperada de ver pela terceira vez na minha vida Lemmy e cia justificarem minha presença ali na zona oeste carioca rodeada de serra de Mata Atlântica, favelas, condomínios e pistas de alta velocidade. Estava num estado de espírito em sintonia comigo mesmo e abençoado pelos desuses da música. Nada podia me atingir, pelo menos naquele metro quadrado. Lamentei a falta de meus amigos de coração da Bahia que poderiam estar ali comigo (alô Cebola, Marcio e Júnior!!!).

Lemmy Kilmister, Phil Campbell e Mikkey Dee entraram no palco gigantesco sem artifícios cenográficos e pegaram seus instrumentos para mais um dia (ops, já era noite!) de trabalho mandando direto nos meus peitos “Iron Fist” seguida de “Stay Clean”. A partir daí com o coração e mente impregnados do grito primal da música que sai da alma vibrei feito um animal sem perder a ternura. No solo de bateria, olho para o céu e agradeço toda força cósmica superior por ter conseguido me ajudar a chegar ali (quase a viagem não rola por interferências de forças ocultas) na beira do palco para me despedir em grande estilo do meu amado rock and roll. A catarse estava instalada e quem estava ali ou tinha virado “irmão de fé” ou era algum babaca fazendo pogo. Foi pouco mais de uma hora embalada pelos caminhos musicais barulhentos belíssimos já conhecidos da trupe comandada por um senhor inglês de mais de 60 anos. Antes da banda se despedir, já tinha gritado com a voz embargada de emoção todos “rock and rol!!!l” “Lemmy!!!” e “Motorhead!!!” que o “pé de ouvido” dos que estavam na minha frente poderiam ou não agüentar.


Quando a cabeça motorizada (não a minha, a banda mesmo!) foi embora, saí daquele turbilhão de mansinho, meio melancólico, feito criança com a alma lavada. Sinto uma onda interna me pegar e vomito novamente (será que estou doente?!), só que dessa vez nos pés calçados de algum jovem bem nascido. Alguém me segura, pergunta se estou passando bem e eu respondo que sim (ele nem imagina o quanto, apesar da aparência!). Mas registrei no coração que ainda rola alguma irmandade no rock. Sozinho, com discretas lágrimas nos olhos e em silêncio percebo o rito de passagem. Deixei bem ali na frente do palco toda energia que me restava daquele adolescente tímido que ouvia sozinho no quarto seus LPs de rock and roll. Sabia que o que viesse em diante naquela noite seriam bonus tracks.

Bebo uma água mineral esgotado e me dirijo ao banheiro para recobrar as forças. Saio dali para comprar uma camisa oficial do Motorhead para o filho da minha ex-mulher, me sentindo passando o bastão para o capetinha. Quero guardar a camisa na loja para não perder na bagaça. Meus olhos passam sinceridade e uma vendedora carioquinha linda com aquele sotaque da Zona Sul foi com minha cara (“deixa comigo baiano!”), pois segurou o produto num canto da loja para eu efetuar a compra no fim do último show. Antes de ir, fico olhando a área vip e me lembro sem saudades das mordomias dos meus tempos de jornalista cobrindo camarotes no carnaval de Salvador.  Lugar de dionisíacos é no gramado. E meu rock é sagrado, mas não deixa de ser profano. Camarote é coisa de apolíneos.

O meu cartão de débito me faz “existir” na meca de consumo do Rock in Rio 4 e pego mais tíquetes de chopp (“to passando mal...!” de novo e sempre) na Rockstreet, onde já me sinto em casa e já pressinto uma ponta de saudade do clima do local. Resolvi ver o show do nu metal de máscara.   
Verdade de alma – A banda dos americanos de macacão vermelho e máscaras engraçadas nunca foi minha praia, mas tomei uma surra dos rapazes. Cheguei a conversar com algumas pessoas na Cidade do Rock como foi que o Motorhead tocou antes deles no festival. Achava um desrespeito. O Slipknot fez um show sincero, arrebatador e emocionante mesmo para um roqueiro de 40 anos. Comecei o show lá atrás e fui fisgado pela sinceridade e catarse musical deles. No final, estava aplaudindo a banda de coração. Tomei uma lição. Nunca falei mal da banda, mas era neutro em relação ao grupo. Agora, já sei dos elogios que tenho guardado para eles na ponta da língua. No intervalo, mergulho na Rockstreet em clima de despedida e fui até a Tenda Eletrônica, que estava com umas modelos deliciosas em várias plataformas futuristas hipnotizando a todos, que “babavam” (eu incluído, claro!) sem piscar o olho. Muito lindo de ver todas aquelas modelos meio space rock carnavalescas.

Metal Militia – O Metallica sabia que a maioria do público foi ao Rock IN Rio 3 naquela noite para assisti-lo e entraram no palco cuspindo fogo no palco depois de dois excelentes shows do Motorhead e do Slipknot. Deram tudo repassando furiosamente o repertório do meu álbum predileto deles (Ride the Lightning). Essa é uma banda que conheci pelas mãos do amigo Marcos “Babau” Biondi nos idos 84/85 e lhe sou eternamente grato. Dali até o final do show, foi uma pancada só, entremeados com momentos de leveza pesada, que encerrou, sem dúvida nenhuma, a melhor noite do festival mesmo antes do seu término. “Rastejei” como bípede para pegar a camisa de Israel e depois até o ônibus, onde encontrei graças ao divino maravilhoso meu amiguinho em estado de graça. Fui “carregado” para dentro do ônibus, pois parecia que já estava nas últimas energias vitais da minha existência. Quando pensava que iria descansar em paz, uma pra lá de simpática capixaba inverteu os papéis da relação humana me obrigando com sua doçura a ficar acordado até ela saltar na Tijuca. O dia 26 de setembro de 2011 ainda não tinha nascido, mas uma página definitiva do meu idealismo artístico tinha sido virada para sempre.      


Minha anunciada despedida como platéia do rock and roll começou em 2010 com o Rush e parece ter terminado nessa noite mágica de 25 de setembro de 2011. Mas, tudo muda quando acontece algo que toca a alma do velho roqueiro. Se o Black Sabbath e Van Halen fizerem tours de despedidas passando pelo Brasil, lá vou eu de novo para o túnel do tempo das minhas emoções vintage rock and roll renovadas pelo aqui e agora e pelo eterno desejo de não deixar de viver a vida. Obrigado Rio!!!!!!!!

32 comments:

Franchico said...

Cláudio Esc, vc é eterno. Corta essa de despedida. Vc ainda vai bater muita cabeça e vomitar em muito tênis de menino por aí...

Franchico said...

A propósito: eu disse "tênis". Tê-nis.

cebola said...

Galera, estou me acostumando ainda ao blogger. Tenho mudado aí cores fontes fundo, etc pra saber como fica mais tranquilo e confortável pra ler. Aceito Sugestões e dicas blz?

Yara Vasku said...

Puxa, Cláudio... vc escreve bem pra porra. Ri, chorei, passei mal. Valeu! E que venham mais despedidas.

Anonymous said...

KKKKKKKKKKKKKKKKK
muito bom!!
esc rulez!!!

Márcio A Martinez said...

Gonzo Esc man, seu texto é de chorar!!! Tanto de rir quanto de emocionante mesmo, um relato igual, fora do esquema jornalístico oficial, creio não haverá em canto nenhum!
Que vontade de estar lá, cara, mesmo te conhecendo há tanto tempo, talvez eu ainda ficasse apavorado com o que iria presenciar vindo de você, mas depois de ler seu texto, acho que valeria a pena correr esse risco!
Seria um grand finale de festivais pra mim também...
Não posso deixar de confesar um pouquinho de inveja por esse seu momento de ouro, que será lembrado a vida toda...
Cláudio Rules!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Queila Amaral said...

Primeiramente, gostaria de pedir licença a Cebola (que não conheço pessoalmente, porém já escutei muito Claudio falar: "...Meu amigo Cebola, grande figura que um dia faço questão de apresentar para ti...")para comentar em seu blog esta aventura que nosso amigo protagonizou.Fiquei imaginando aqui as cenas relatadas por Claudio e tentando visualizar suas caras e bocas! O seu comportamento não poderia ser outro...Lendo ainda o final da 1ª parte pude perceber que esse evento não será e nem pode ser (devido seu histórico) o último em sua vida! Porque isso? Vc tem muito ainda viver e curtir. Mas sem esta de levar o "ranço" baiano (espero que seja a minoria) de fazer xixi na rua. Só não consegui imaginar vc um gentleman fazendo isto...Mas enfim, foi algo fez parte do capítulo chamado Rock in Rio. rs

cebola said...

À vontade Queila. Volte sempre. Grande relato de Claudio, né? me deu até vontade de estar lá!

cebola said...

E essa estória de "último" acho que ele mesmo já deu a dica de que é conversa, aqui na segunda parte. ;)

Leonardo Barzi said...

Cláudio, o show do Motorhead foi um dos melhores que já vi. Mas vi em um local menor, fechado, em que eles mantiveram a maldita reputação de mais barulhentos. E fiquei com a lembrança zunindo por uns dias (e fiz audiometria em um admissional dias depois - e fiquei com nota máxima, para minha surpresa).

Só saio de casa pra uma barca furada (leia-se festival) pra ver a Susan Tedeschi com o maridão e, se tudo der certo, o Lynyrd no SWU. Senão vou me aproveitando dessa moleza que é morar no Sul e perto de SP.

E nunca esquecerei quando te mostrei o VHS do Free na ilha de Wright e você, bandeiroso, gritou, ao ver o Kossof: "JOHN SYKES! JOHN SYKES!". Memorável.

Pra fechar, me responda: Qual a primeira formação do Deep Purple?

Abraços!

Anonymous said...

obrigado a todos pelos elogios e leo, todos sabem, e foi reafirmado isso nas coletivas do rock in rio I pelo sykes, murray e smith que a maior influência deles como guitarristas era mesmo o kossof, aliás o sykes chega a ter a vestimenta parecida, cabeleleira e guitarra preta...enfim...abraços!!!
cláudio moreira

Anonymous said...

ah, sim a mark 1 do purple: john lord, ian paice, ian gilan, blackmore e rod evans
cláudio moreira

Anonymous said...

ops! oh, eu vacilando...desculpe...nick simper...hehehehetira o ian gillan
cláudio moreira

Anonymous said...

teve uma viagem histórica para cruz das almas que eu falava nick, que nick? e um cara falou nick lauda!!!hehehehe...e depois, rod, rod que rod? rod stweart...mas o pianista aprendeu legal!!!
cláudio moreira

Márcio A Martinez said...

Mas Cláááááudio!!! Ian Gillan man?!? Os neurônios já tão pocados é? hehehehhehe...

Márcio A Martinez said...

Ontem o Titãs/Xutos e Pontapés put to fuck! Nossa! Tinha trezentas guitarras no palco, que som lindo! Thunder and Lightning striking de com força! Aquilo sim é Roooock na lata!!!
A parte Rock do faz-me RIR foi devidamente respeitada naquele palco sunset...

Márcio A Martinez said...

Léo Metallica ou Léo Motorhead?!? Agora já não sei mais... hehehe...
Grande Barzi, quando vai nos dar o prazer de sua aparição por aqui man?
Queen fã igual eu não conheço...

Anonymous said...

Ana Cláudia Cavalcante:
Para quem leu "Sem medo e delírio no Rio de Janeiro", quero registrar que gostei de ser mencionada nessa despedida!! Quantas virão? Cláudio, não há ex-sentimentos na verdade... só eternos, sendo re-significados...
bj Ana Cláudia

Leonardo Barzi said...

Aê, Claudio, aquela viagem foi sensacional! Quem sabe um dia faremos algo parecido?

Marcio, eu aparecerei logo. E vocês, quando virão congelar por aqui?

E uma pergunta: só eu que prefiro o Captain Beyond ao Purple?

Márcio A Martinez said...

Barzi, não convida que eu vou! Adoro congelar! huhuhuuu...

E "Captain Beyond"?!? Cara, nessa você foi além! (desculpe o trocadilho... he...)! Banda muito boa, space rock na cabeça!

Márcio A Martinez said...
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Márcio A Martinez said...
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Márcio A Martinez said...

Craudinho meu fío, essa eu quero ver: Confirmado o faz-me RIR em setembro de 2013... vi agorinha no JN.
Vamos lá nos "despedir"? hehehe...

cebola said...

Respondendo Leo Barzi: Sim!

Anonymous said...

Captain Beyond também gosto muito...loucura criativa, hein?! mas, prefiro hj acima de todos o wishbone ash...
cláudio moreira

PyCodelic said...

Cláudio Moreira = Cláudio Achê do Vieira ?

cebola said...

O próprio, mr Vela!

PyCodelic said...

Me lembro que uma vez ele chegou na Católica com uma garrafa plástica com batida de pitanga, comprada no mercado modelo, enrolada num saco de papel vagabundo, cheio da cana e se queixando que a batida estava talhando seu fígado. Lá pelos idos de 1989 - quando o Bahia foi campeão.

Sds.

Márcio A Martinez said...

Ah tá, Mr. Candle... de lá pra cá ele já fez uns dois transplantes... por isso que taí curtindo festival ainda...

Anonymous said...

amigo vela...por onde anda fantasminha camarada? vai ao encontro de ex-vieirense dia 28 no carangueijo de sergipe? em 89 estava começando e beber e não sabia fazê-lo...nem sei se aprendi...hehehehe.....
abraços
cláudio moreira

PyCodelic said...

Grande Cláudio,
Ainda estou no plano físico e me exilei em SP (sociopata completo). Não irei ao encotro - se ainda fosse no "Estrela do Garcia" talvez ainda considerasse. Aliás, tirando um grupo pequeno de ex-colegas a restada não me faz falta - desprezo quem me desprezava. Sem falar que as mulheres "melhorezinhas" da época viraram completas e absolutas barangas - o que serve de algum consolo - se na época não me davam a mínima pra mim, agora que não liga para elas sou eu - ra, ra, ra.

Sds.

-_-

Anonymous said...

também tenho esse estranhamento com o povo do vieira...pequeno burguês de cabeça demais...minha linhagem é outra, mas como nuca fui em nenhum anterior, resolvi fazer as pazes com esse colégio...apesar de que lá sou um estranho no ninho.....
cláudio moreira