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Tuesday, July 11, 2006

O que você gosta na música?

Foto: Thiago Fernandes




























O objetivo desta série que se inicia é registrar depoimentos de pessoas de alguma forma envolvidas com essa nossa querida obsessão, seja músico, produtor, jornalista ou, a razão final de tudo isso, o fã. A forma é livre, o tamanho também ( não exagerem queridos leitores ) e o conteúdo mais ainda. Neste lançamento, um depoimento sincero e emocional do baterista José Wilkens Dantas, da Theatro de Séraphin, banda de Salvador prestes à lançar seu primeiro disco, naquele momento crucial da vida de um músico vendo parte de seu sonho tornar-se realidade. Eu que agradeço, Dantas, essa colaboração, e botem pra fuder, Theatro De Séraphin, vocês sabem quem são!


PARA ONDE MESMO QUEREMOS IR , Por J W Dantas


E se for apenas um desejo de, talvez, subverter. Ficar imune a tantos padrões que refutamos com orgulho. Tomados por um sentimento que nos garante...(tudo bem, não sabemos ainda). E o que sabemos é que nos é valioso. Definir o que nos cerca é o que fazemos a todo tempo. Quando subimos no palco (ou sem ele mesmo) e tocamos nossa música entre aplausos, desconforto e fúria. Será mesmo uma tentativa de abraçar estas idéias? Dar impulso a tantas manifestações? Resolvi lembrar da minha primeira banda. Sabe aquela que você ainda tá no colégio ( tem quem continue com ela até hoje ) e os teus amigos também querem tocar? Não lembro ao certo mas, de repente, me vi tomado por essa idéia. Claro que ninguém tocava porra nenhuma. Resolvemos tocar rock. Foda-se. Ergamos as armas para aniquilar o inimigo, como diria algum hino europeu ( vamos convir que, nesta idade, até um abridor de latas é seu inimigo.

Pouco tempo depois, para minha surpresa, todo mundo comprou seus instrumentos, tudo de quinta, mas estávamos muito felizes para pensar nisso. Conseguimos um quarto para ensaiar os primeiros acordes, e usar o que estávamos aprendendo. Sem falar nas outras coisas...que eu nem lembro pra falar a verdade. Uma prima resolveu cantar com a gente. Tínhamos bateria, baixo e guitarra. Era nossa orquestra (um tanto barulhenta ) mas a sensação era maravilhosa. Conseguimos até manter um ritmo de ascensão criativa. Tudo regado a bebida, fumo e muita...superação. O guitarrista começou a namorar nossa vocalista. Ótimo. Logo seria eu também faturando. Terminamos a banda. Melhor que tenha ficado somente na nossa lembrança.
Hoje, em vias de lançarmos o primeiro disco da Theatro de Séraphin ( cujas baterias são assinadas por este que vos escreve ), me sinto de novo com aquela sensação. Dá vontade de mostrar para os amigos. Ao mesmo tempo, falta tanta coisa a fazer...Mas a idéia é esta, mostrar para os amigos. A diferença é que hoje queremos mostrar não só para os amigos. Para variar, mais uma vez, vivemos esse paradoxo que mais parece uma enxaqueca, sempre voltando pra irritar. A cidade nunca esteve tão asfixiante, os lugares fechando, as produções encolhendo cada vez mais. Paralelo a isso ( heroicamente ) estamos conseguindo produzir trabalhos de grande relevância e de apuro técnico satisfatório. Sem precisar citar nomes ( não seria esse o mérito de nossa questão ), nunca criamos tanto e tão vorazmente. O que possibilita, creio eu, que tenhamos um cenário de bandas tão singulares no que se propõe cada uma delas. Será que existe mesmo uma proposta ( mesmo que intuitiva ou subjetiva ) de dar visibilidade, ainda que se restrinja ao chamado “underground” ? Já nos orgulhamos até de gerações vitoriosas. Mas não há o que se comemorar a décadas. O tom pode até ter ficado carregado. Eu tomo a defesa. Não sou um internauta de fato. Sofro até de uma “hipissefroidiana”. Agradeço desde já o espaço à Cebola. A tecnologia parou de me emocionar a algum tempo. Consigo perceber, porém, que tem sido ela a única difusora do que criamos. Portanto, que venham mais podcasts, que se discuta mais ( ampliando os enfoques ) o que se produz de música e qualquer manifestação artística que seja íntegra no que se propõe. Que a nossa arte adquira status de produto. É assim que o mecanismo gira.

Então, que a mídia enxergue o que não alcança. Melhor que não enxergar por razões nefastas. Ainda ressalvo o lirismo de nossas letras. Que só confirmam ( na minha humilde opinião ) a pureza, a intensidade e um certo descompromisso. Diferente do que nos restringem a “consumir”. Parece ter chegado a hora ( e chega desse papo de ciclos ) de assumir este desejo. De romper essa neblina que nos mantém parados no acostamento. Por que a idéia de se fazer um festival que venha, eventualmente, a entrar no calendário nacional, contemplando profissionais e público, servindo de vitrine para as bandas, soa sempre como um disparate? “Saudade que estraçalha a serenidade”, certamente, resta agora se perguntar para onde mesmo queremos ir. Artur (Artur Ribeiro, vocalista, guitarrista e compositor da Theatro de Séraphin. Nota de Cebola) tem me feito refletir sobre essas coisas nos últimos dois anos com suas letras tão lindamente inquietas. Não quero dar um ar de levante ( ou coisa parecida ). Precisamos de uma “big” revolução na difusão de nossa música. Não dá mais para escorrer pelos dedos como cinza de cigarro. Deixo ainda um salve para nosso grande brother Rogério e vamos em frente.

A propósito, assisti a um show do Eurochannel. Arno, live in Brussels. Não conhecia, achei maravilhoso. Todos os músicos pareciam ter mais de quarenta anos. Muita energia nas guitarras e baladas ásperas ao piano. Perfeito para essa molecada que usa o rock como bandeira para esse narcisismo pueril de reality shows. Destaque para o vocalista. Uma voz carregada, mas emocionante.

39 comments:

mov. nac. de busca e apoi a pessoas desaparecidas said...

Caralho! Vou falar no auge da emoção sob as letras de Dantas. rapaz, vc sintetizou tudo: que passe o tempo, as coisas e as pessoas, o que não deve mudar é a inquietude, as sensações primitivas que nos move.

cebola, parabéns pela série. uma idéia do caralho e eu vou divulgar.

L.R. said...

Daaaaaaaaan! :)

Nossa que surpresa ver aqui suas belas palavras traduzidas em tão densos pensamentos.

É sempre um prazer entrar no seu universo...introspecto, aparentemente cabisbaixo, porém, intenso, belo e sensitivo.

Deixo aqui meus parabens pelas conquistas da Theatro e um abraço à você.

Boa escrita. Boa alma. Boa sensação...

Grande beijo,
...Liu

Marcos Rodrigues said...

Grande Dantas. Nenhuma surpresa aqui pra quem sabe que vc tem uma alma densa e generosa. Vamos em frente, garoto.

Anonymous said...

lindo, lindo, lindo.
vc foi demais

Yara Vasku said...

Que bom q vc deixou registrado tudo isso que se passa com vc, aí dentro. Sabemos do seu talento, do seu brilho, carinho, bom humor e etc. Mais pessoas agora sabem.

osvaldo said...

blz de depoimento de dantinhas!e um blogger q tem os comments de claudio esc é campeao

Nei Bahia said...

e ainda por cima ele é gatinho!!!

Franchico said...

Esc? Cadê?

Tb gostei do texto, muito pessoal e sincero. Um abraço, Dantas!

artur said...

Lindo Dantas, tão lindo quanto vc é lá no fundo.

artur

Anonymous said...

é dantas, vc é um bom cara! sua sensibilidade é foda! agora, vc tá sossegado porque passou sua fase de comilão e está sossegado e casado....será?! mas, vc sempre será nossa isca para as mulheres...hehehehe
cláudio

Anonymous said...

porra chega de dizer que o cara é lindo. tô vendendo um ventilador arno...

Anonymous said...

é achei lindo o texto, bem sincero e a cara das inquietações existenciais de dantas em relação à banda e à música em geral...vc é dos nossos dantas...se preocupa não que a teatro vai ter seu reconhecimento...todos eles amigos: marcos (o cérebro); artur (a alma); dantas (a face) e candido (o raio)...agora uma questão que não quer calar: se o casca tiver um monte de show para fazer pelo país por conta do "bogary", o que fará o raio? vai relampejar por aí, por thor?! ou vai seguir no teatro de sembras da melhor banda de rock triste de nossos tristes trópicos?! santa dúvida, malta! (ops!)
cláudio (um ser que anda pensando sobre esses momentos capitais do rock baiano, tenho dito!)

Anonymous said...

errta: teatro das sombras, meu caro watson!
cláudio

Anonymous said...

errata da errata
errata
cláudio (num dia meticuloso)

cebola said...

cláudio, tu é loki, bicho.

Anonymous said...

É... sinto esta inquietude antes citada, já sentir também a fúria destes que por mais que tentem, jamais serão felizes. Triste sina esta...
Ah sim....Do caralho Dantas!!!

Anonymous said...

"quando ocorre uma pretensa comunhão de pessoas em torno de uma cômoda unanimidade de opiniões é porque chegou o momento de deixar que os mesmos mostrem na ribalta que são realmente o que insinuam ser..."

cebola said...

ou, como diria um rebanho de gente, LET´S ROCK!
Logo mais, no Laboratório Acústico do Cascadura, com Zecacurydamm e, não esqueçam, dia 22, próximo sábado, Berlinda no dubliners em frente à prefeitura com The Budas e DJ Messias, o homem da brincando de deus.

Anonymous said...

"por fim, sobra o som acústico dos que pretendem transformar o Capão no centro energético do mundo, mas, no minuto seguinte, passeiam de carro pelas ruas da cidade...enfim: contradições da mente da pequena burguesia"

Anonymous said...

é, pro cretino anonimo aí de cima se o cara se identifica com o capão ele teria que andar descalço e de bata hindu pelas ruas da cidade. Contradições de uma mente sem ocupação útil. Vai estudar, imbecil!

cebola said...

Epa, vai começar baixaria por aqui não héim?

Anonymous said...

a velha prepotência da pequena burguesia...aliás, o rock baiano está recheado de seus filhotes...

Anonymous said...

e graças a deus que sua pessoa não faz parte deste rock baiano que, apesar de frustrados recalcados como vc, continua, bem ou mal, mas continua.

Anonymous said...

e a prepotência pequeno burguesa citada é proporcional ao seu recalque, pseudomarxistazinho de buteco!

Anonymous said...

e se faz parte, pelo tamanho de tua inveja, tua banda deve ser uma grande bosta.

Anonymous said...

quanta fragilidade ser corporativo...a sua Bahia é apenas uma criação mítica e o seu rock também...

Anonymous said...

não toco em banda, palhaço frustrado, o rock na cidade existe, tá aí pra quem quiser, e sabe qual teu problema? Tu tá fora dele, assim como eu, mas eu não choro minhas dores e frustrações em público, como você. Frustrado, recalcado e infeliz! Por que tu não faz um blog de intriga modelo Leão? É a tua cara!

cebola said...

Por que vocês não se identificam e fazem um texto legal, como esse de Dantas, que deveria ser a razão destes comentários, e me mandam? Não seria legal? Manda que eu publico.

Anonymous said...

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@(falta do que se expressar!)

Anonymous said...

citando lion man...grande cara!

Anonymous said...

pensar pequeno é o que se faz no seio da pequena burguesia e ainda tira onda de descolado...

Anonymous said...

daqui a mil anos será encontrado no meio das ruínas da velha capital da bahia um cd do trio hippie tardio...coitado do antropólogo que for ouvi-lo!

Anonymous said...

Ao menos eles estarão com um registro de algo com que sonharam e levaram adiante. E você?

Anonymous said...

cebola
se quiser que seu blog tenha consistencia e relevancia BLOQUEIE os comments anônimos.

Anonymous said...

foda-se o capão
"fuck the fucking hippies"
johnny rotten

mov. nac. de busca e apoi a pessoas desaparecidas said...

hora de uma postagem nova, cebola.

parabéns pela idéia, mas já disse isso, né??

fica re-dito!

Anonymous said...

quem sabe...um dia todos irão cantar belas canções emocionais ao violão ao redor de um fogueira...no capão ou não...e se redescobrirem e esquecerem todo passado vazio de alma vivido nos playgrounds e paraísos artificiais das grandes cidade do mundo ocidental...mas, sempre olhando para o próprio umbigo...
assim é e assim sempre será...enquanto assim for...

Anonymous said...

Really amazing! Useful information. All the best.
»

Anonymous said...

cara sou filho do josé dantas, voces escreveram o nome dele errado estou, decepcionado